– É o seguinte… Aquela foi a noite mais estranha da minha vida. E da vida dos dois também. – apontei para a parede e, com o deslizar do meu dedo, selecionei uma das muitas fotos de Neto e Marcinho abraçados. – E está na hora de falar dela. Sabe, eu sou a última pessoa viva que sabe do segredo do Neto.
Agora posso confessar: sou um dos piores jogadores de futebol que este mundo (e provavelmente o universo e outras dimensões também) já viu. Escrever sobre futebol foi um desafio, mas depois de pensar em um monte de possibilidades, finalmente me lembrei do óbvio: futebol é paixão. Não importa quem: o torcedor, o técnico, o jogador ou o jornalista; a maioria das pessoas envolvidas com o esporte só está lá porque é apaixonada por ele. E de paixão, até mesmo pernas de pau incuráveis como eu entendem.
Quando decidi escrever “O Último Craque”, queria falar destas pessoas usando a ficção científica. Por isso, inseri um personagem que, como eu, não deveria estar ali. Alguém tão apaixonado por futebol que seria obrigado a esconder quem realmente é até mesmo de seus amigos para continuar jogando. Esta foi a desculpa de que eu precisava para abordar temas como amizade, preconceito e lealdade.
Como existe certa má vontade com os grandes astros do futebol e a suposta ausência de amor a camisa, escolhi personagens que estão no limite da transformação em celebridades, jogadores da segunda divisão que surpreenderam a todos com seu desempenho. Senti-me mais à vontade trazendo-os para um mundo mais próximo do meu. Além disso, eu gostaria muito que, apesar do foco nos bastidores de um campeonato masculino, minha história não fosse um feudo de gênero. Há uma única personagem feminina, mas trabalhei para que sua relevância seja inversamente proporcional à brevidade de sua participação.
Eu nunca havia escrito uma ficção sobre futebol; a ideia da Draco de unir o esporte à literatura fantástica me atraiu imediatamente. Desenvolver “O Último Craque” foi prazeroso. Na verdade, até mesmo revisá-lo tantas vezes até chegar a versão final foi um exercício especial. Felizmente, a habilidade com a bola não foi critério para montar a seleção de escritores; caso contrário, eu não estaria aqui.